tendências e oportunidades na China

O nosso retorno à China, após o fechamento pandêmico: tendências e oportunidades

Publicado em 17 de Abril de 2023 em Artigos

Nos últimos anos, passamos por um período de incertezas no cenário econômico mundial, em decorrência da pandemia. A China, certamente, foi o país que manteve as suas fronteiras por mais tempo fechadas e com severas restrições. Além do fechamento de fronteiras, quarentenas longas impostas aos visitantes e residentes, houve certa especulação de que tenha existido um período de incertezas nas relações diplomáticas envolvendo Brasil e China. Mesmo com essa especulação, os números do comércio bilateral permaneceram altos. O país permaneceu no topo das relações comerciais com o Brasil, sendo o nosso principal parceiro desde 2009.

 

Segundo informações do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), em 2021 (plena pandemia) o comércio bilateral China-Brasil cresceu 44%. Em valores, atingiu o patamar de US$ 125 bilhões (equivalente a cerca de R$ 625 bilhões, considerando o câmbio US$ 1,00 / R$ 5,00). Para efeitos comparativos, o comércio bilateral entre ambos os países, no ano de 2006, somou apenas US$ 16 bilhões. Ou seja, o crescimento é exponencial e ocorre anualmente. Em um período de 17 anos, o aumento no volume foi de quase nove vezes.

 

Durante a viagem, acompanhando a delegação composta por centenas de empresários brasileiros, constatei algumas tendências e oportunidades na China.

 

Momento pós-pandêmico

 

No início desse ano, a China finalmente baixou as suas restrições para residentes e visitantes. Momento que coincidiu com o período de posse do presidente Lula no Brasil. Assim, poucos meses após a reabertura de suas fronteiras, uma grande delegação de empresários foi convidada pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) e pelo Conselho Empresarial Brasil-China (CEBC) a se juntar à comitiva do presidente eleito, em sua primeira visita à China durante a sua nova gestão.

 

Visita à China pela delegação

 

Representantes dos mais variados setores se juntaram à delegação de empresários. Dos participantes, pelo menos 30% eram do setor do Agronegócio, grupo que estava representado pelo Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro. Fávaro teve um importante papel na remoção de barreiras que haviam sido impostas na exportação de carnes à China, assim como na aprovação de novas plantas de frigoríficos exportadores ao país.

 

Outros setores também se destacaram durante a visita. Dentre eles estão os de infraestrutura portuária, energias renováveis, papel e celulose, tecnologia e inovação. A agenda também focava em produtos, setores e serviços de valor agregado.

 

Percepção do momento atual da China

 

Morei na China entre 2007 e 2011 como advogado brasileiro. E fui à viagem como representante de TozziniFreire Advogados em 2023.  Destaco as minhas principais impressões durante esta minha recente passagem pelo país, como membro da delegação e diretor do CEBC.

 

O primeiro impacto foi testemunhar que, em pouco mais de 10 anos, o país asiático passou por uma profunda modernização. Isso já é um dos indícios de quais são as tendências e oportunidades na China. Hoje, a maior parte da sua frota de veículos (incluindo táxis e carros de aplicativo) é composta por carros elétricos. Tais carros, inclusive, melhoraram profundamente o seu design e hoje, no quesito beleza, não perdem para carros alemães ou japoneses.

 

Nas duas cidades em que estivemos presentes, Beijing e Xangai, notamos que a incidência de poluição é bem menor do que aquela de 10 anos atrás. Trata-se de um resultado escancarado pelas políticas de financiamento verde e  sustentável do país. Além disso, há um silêncio maior nas ruas por conta da ausência de ruídos gerados por motores a combustão. Vale ressaltar que, boa parte da população trocou as bicicletas pelos carros, o que tornou o trânsito de veículos ainda pior.

 

Nas grandes cidades, não foi possível notar uma desigualdade social. O que se pôde testemunhar foi uma pujança econômica, que investiu profundamente em modernização de suas leis, infraestrutura, consumo, inúmeros shoppings novos e tecnologia.

 

Histórias de pessoas de menor renda que compraram casa própria também eram frequentes. Por outro lado, tudo estava muito mais caro. Isso em razão da valorização do Yuan ou Renminbi, moeda chinesa, e frente ao Real. Até pouco tempo atrás, R$ 1,00 valia RMB 4,00. Hoje R$ 0,72 equivale a RMB 1,00. Ou seja, quase parearam as moedas.

 

Alguns comércios que eram facilmente encontrados em regiões mais nobres (massagens, vendas, frutarias e outros pequenos negócios) migraram para regiões mais distantes dos centros financeiros por conta dos elevados valores de locação. Aqueles que permaneceram nos centros cobram preços bastante salgados. Ainda, alguns restaurantes e bares que antes atraíam estrangeiros já não existem mais, pois fecharam durante a pandemia.

 

Essa vivência recente me permitiu identificar algumas tendências e oportunidades na China, seja no comércio, educação ou no setor jurídico.

 

Tendências e oportunidades na China


A delegação de empresários esteve, por exemplo, em uma das sedes da Alibaba na China. Muito bem recebidos, a empresa mostrou o porquê é tão grande no mundo através de um tour por suas instalações. A empresa nos ensinou o que o seu sistema é capaz de oferecer.

 

O seu sistema de pagamentos, por meio de um aplicativo chamado Alipay, é uma ferramenta obrigatória a todos os estrangeiros. Seja para efetivação de pagamentos, chamada de taxis e dentre outras inúmeras funções não necessariamente ligadas à compra de produtos, já que a grande maioria dos locais não aceitava dinheiro efetivo. Esse é um modelo a ser observado pelos reguladores e desenvolvedores de software brasileiros, visando incrementar o nosso Pix a agregar outros serviços.

 

Parte da delegação esteve no Tuspark (parque tecnológico da Universidade de Tsinghua, uma das maiores da China), ocasião na qual fomos cordialmente recebidos pelo reitor da Universidade. Ele fez questão de nos mostrar como foi construída e financiada a estrutura de um dos principais polos criativos de tecnologia da China. Cerca de 14 fundos de Private Equity e Venture Capital participaram do financiamento, conforme nos foi apresentado. Aproveitaram a oportunidade para compartilharem que querem receber visitas de representantes de universidades brasileiras. O reitor tem total interesse em firmar convênios e promover uma troca profunda de experiências no setor de educação envolvendo China e Brasil e ressaltaram: “por favor, informem ao Brasil as nossas intenções”.

 

Também estivemos, por meio de visitas paralelas àquelas organizadas pela Apex, em grandes escritórios de advocacia chineses, visitando sócios seniores. Notamos que o clima é de bastante otimismo em relação ao Brasil. Houve, de fato, durante a pandemia, uma diminuição de operações de grande porte, fusões e aquisições e operações de financiamento entre ambos os países. Porém, os escritórios já mencionavam um crescimento no pipeline de operações, em decorrência da reabertura. A China hoje cresce 5% ao ano, já chegou a crescer espetaculares 12% ao ano. O seu governo enxerga que é hora de diversificar investimentos e de atrair indústria estrangeira.

 

Fundos de Investimento Chineses e Bancos Multilaterais

 

No que se refere aos fundos de investimentos chineses, a China possui, assim como o Brasil, uma indústria consolidada de fundos. Inclusive, nas reuniões, nos aprofundamos em como a indústria está regulada. Existe, assim como a Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais  (ANBIMA) que autorregula os fundos, a Asset Management Association of China (AMAC - Associação de Gestão de Recursos da China).

 

Discorremos, com nossos parceiros, como estão estruturados os importantes fundos chineses (soberanos e não soberanos). Ocorre na China um boom de investimentos de varejo em fundos de investimento. A indústria de fundos na China já soma US$ 4 trilhões. Discussões parecidas com as presentes no Brasil também existem na China, como  as relacionadas às taxas de distribuição de fundos, melhorias na regulação do mercado, entre outras.

 

Também visitamos, paralelamente às visitas da delegação, o Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB) e ficamos surpresos com o tamanho de sua estrutura. O AIIB já se consolida como o segundo maior banco multilateral do mundo. Além dele, visitamos o Banco do Desenvolvimento dos BRICS (New Development Bank - NDB). Escutamos que os chineses valorizaram a chegada da ex-presidente Dilma Rousseff ao comando desse banco. Para eles, uma ex-presidente da República assumir uma posição na China é de grande valia. Portanto, isso deve ser refletido, espera-se, em bons negócios e financiamentos utilizando a estrutura do NDB.

 

Enfim, cabe ressaltar que tivemos uma experiência bastante positiva em nossa visita ao país asiático. Apesar da grande distância geográfica e cultural entre ambos os países, existe um grande apetite pela aproximação e crescimento, ainda maior, da relação com o nosso principal parceiro comercial. Fomos muito bem recebidos no país.

 

Há outras tendências e oportunidades na China das quais pudemos constatar durante a viagem. Traremos ao longo dos próximos dias mais detalhes sobre todas as oportunidades que essa relação pode trazer a todos nós.

Publicação produzida pela(s) área(s) Inovação Financeira, Bancário e Operações Financeiras, Mercado de Capitais, China Desk

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