Crescimento da IA e a demanda por energia: a expansão dos data centers

Publicado em 20 de Março de 2025 em Artigos

O impulsionamento da inteligência artificial (IA) transformou todos os setores da economia, estimulando inovações que redefinem processos e serviços. Contudo, essa revolução tecnológica tem um custo oculto: o aumento exponencial na demanda por energia. O funcionamento de algoritmos avançados, como os baseados em aprendizado profundo, exige poder computacional massivo, fornecido principalmente por data centers, estruturas essenciais para processar e armazenar informações em escala global.

 

Pode-se afirmar, portanto, que os data centers são a espinha dorsal da sociedade moderna, cujo funcionamento se tornou de certa forma dependente de uma vasta gama de serviços e aplicativos digitais, desde plataformas de comércio eletrônico e redes sociais até IA e armazenagem de dados em nuvem.

 

Data Centers e Consumo Energético

 

Segundo white paper publicado recentemente pela consultoria Thymos Energia, o consumo de energia elétrica global dos data centers em 2022 foi estimado entre 240 e 340 TWh, representando de 1% a 1,3% do consumo total, podendo alcançar 2% (460 TWh) acrescentando-se as atividades de mineração de criptomoedas e de rede de dados.

 

A infraestrutura de IA depende de data centers, que consomem quantidades significativas de energia elétrica para o processamento, armazenamento e transmissão de dados, mas especialmente também para resfriar servidores que operam ininterruptamente.

 

Historicamente, esses centros foram instalados em países frios como Islândia, Finlândia e Canadá, onde o clima ajuda a reduzir os custos de refrigeração. Com o alto consumo de energia elétrica, o suprimento seguro e estável de energia é mais um aspecto importante na determinação da localização dos data centers. No entanto, essa solução geográfica não resolve completamente o problema ambiental, pois a origem da energia utilizada ainda é um fator crucial para limitar emissões de carbono.

 

Dessa forma, em um mundo atento e empenhado na descarbonização da economia, a disponibilidade de energia proveniente de fontes renováveis e de baixo custo também se mostra crucial para a operação eficiente e sustentável dos centros de processamento de dados.

 

Brasil: Potência Energética Sustentável

 

O Brasil desponta como alternativa promissora para a instalação de data centers sustentáveis, graças à sua matriz energética predominantemente renovável. Em 2022, segundo Relatório Executivo do Balanço Energético Nacional publicado pela Empresa de Pesquisa Energética, cerca de 88% da energia elétrica gerada no país veio de fontes limpas, como hidrelétrica, solar e eólica, tendo as duas últimas sido as grandes responsáveis pela expansão da matriz nos últimos anos. Essa característica coloca o Brasil em posição estratégica para abrigar centros de processamento de IA, reduzindo o impacto climático das operações tecnológicas.

 

Além disso, a projeção da Thymos prevê que o setor de data centers no Brasil movimentará mais de R$ 60 bilhões até 2030, evidenciando um mercado em franca expansão. Isso reflete tanto o interesse global em fontes energéticas mais limpas quanto a necessidade crescente de infraestrutura tecnológica robusta e sustentável.

 

Regulamentação e Sustentabilidade

 

A recente aprovação do Projeto de Lei sobre a regulamentação da IA pelo Senado reforça a importância de considerar não apenas os aspectos éticos e jurídicos, mas também os impactos ambientais associados à tecnologia. Empresas do setor que atuam com responsabilidade ambiental já estão reavaliando suas operações e optando por regiões com acesso à energia sustentável.

 

Paralelamente, iniciativas voltadas para práticas mais eficientes, como sistemas de refrigeração avançados e geração própria de energia renovável, estão se tornando diferenciais competitivos. Nesse cenário, o Brasil oferece oportunidades de negócios significativas para empresas tecnológicas que pautam suas condutas por padrões ambientais rigorosos.

 

Se, por um lado, para o setor elétrico brasileiro, a demanda criada pelos data centers impõe desafios relativos à expansão e à confiabilidade da rede, por outro, o crescimento desse novo nicho de consumidores revela uma excelente oportunidade para agentes de geração e de comercialização de energia.

 

Não obstante, é relevante que os potenciais impactos ambientais associados aos data centers sejam adequadamente avaliados e, conforme o caso, mitigados, à luz da legislação ambiental aplicável. O uso de geradores e o armazenamento de combustíveis, a utilização de recursos hídricos e o gerenciamento de resíduos sólidos são alguns dos temas que merecem atenção quando se trata da operação de data centers.

 

Considerações finais

 

Com a expansão da IA e a crescente dependência da tecnologia, inevitavelmente aumentam também a importância dos data centers e a demanda por energia elétrica. A escolha estratégica de locais para data centers pode mitigar esse impacto climático, transformando desafios em oportunidades. O Brasil, com sua matriz energética limpa e em expansão, apresenta-se como uma solução prática e sustentável, e pode se consolidar como um hub de data centers na América Latina. Empresas comprometidas com a sustentabilidade devem considerar o país como um centro estratégico para suas operações tecnológicas, ajudando a moldar um futuro digital mais verde e responsável.

Publicação produzida pela(s) área(s) Ambiental, Cybersecurity & Data Privacy, Infraestrutura e Energia